Gigantes nos EUA, JBS e Marfrig sofrerão duplo impacto

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Frigorífico da JBS em Mato Grosso, que podem sentir impactos do tarifaço de Donald Trump

Frigorífico da JBS em Mato Grosso, que podem sentir impactos do tarifaço de Donald Trump

MARIANA BARBOSA

DO UOL

Gigantes da proteína animal, as empresas JBS e Marfrig investiram bilhões nos EUA nos últimos anos — e agora podem ser prejudicados duplamente com as tarifas de 50% impostas pelo presidente Donald Trump. Suas operações nos EUA importam produtos do Brasil, que ficarão mais caros com as tarifas. A JBS Friboi exporta para o varejo e o mercado de food service americano.

 

O rebanho dos EUA é o maior do mundo — mas está em declínio e hoje a produção é a menor das últimas cinco décadas. Assim como a capacidade manufatureira americana que Trump tenta reabilitar com sua errática política comercial, o rebanho não é suficiente para abastecer todo o mercado doméstico e os frigoríficos locais e estão cada vez mais dependentes de importados.

 

Nesse cenário, as exportações de carne brasileira para os EUA vêm crescendo aceleradamente. O Brasil vendeu US$ 1,3 bilhão em carne bovina para os EUA no ano passado — o triplo do que foi exportado em 2020. E para este ano, a expectativa — antes do tarifaço — era de alta de 70% em volume, totalizando 408 mil toneladas.

 

Hoje a carne brasileira já paga 26,5% de tarifa e o setor ainda tenta entender a carta que Trump divulgou nas redes sociais na semana passada para saber se os 50% se somam à tarifa existente ou se esse seria o valor final.

Os EUA são o maior mercado da JBS fora do Brasil. A empresa chegou ao país em 2007 com a compra da Swift e, no mês passado, transferiu a listagem das suas ações para a Bolsa de Nova York. Hoje são 90 unidades produtivas espalhadas pelo país norte-americano, com as marcas do grupo presentes em 2 mil pontos de venda.

 

Os irmãos Joesley e Wesley Batista têm algum trânsito na Casa Branca: eles foram os maiores doadores da cerimônia de posse do presidente americano, com um cheque de US$ 5 milhões.

 

No início do ano, a empresa anunciou ainda investimentos de R$ 1,1 bilhão (US$ 200 milhões) em modernização e ampliação das suas operações americanas. O grupo dos Batista é o terceiro maior produtor de proteína animal dos EUA — atrás de Tyson Foods e Cargill.

 

Depois da JBS USA, vem a National Beef, da Marfrig. O grupo de Marcos Molina, que está em processo de fusão com a BRF (dona da Sadia), entrou nos EUA em 2018 com a compra da National Beef. Novos mercados Um choque de preços com uma sobretaxa de 50% impacta obviamente os exportadores brasileiros —- mas, diferentemente do mercado interno americano —- eles têm mais alternativas na mesa para escoar a produção.

 

Com sua pecuária extensiva, o Brasil tem volume e preços competitivos. A arroba do boi gordo custa algo em torno R$ 300 no Brasil e R$ 620 nos EUA. A Austrália, que poderia fornecer para os EUA, não tem volume para suprir a demanda hoje da carne brasileira. O Brasil abriu este ano o mercado do Japão — que por décadas ficou fechado para a carne brasileira por razões fitossanitárias.

 

Outros países asiáticos, assim como México e Canadá, também podem absorver parte da demanda. Outra alternativa que está no radar é exportar o gado vivo para o vizinho Paraguai — que não sofre com retaliações de Trump.

 

A brasileira Minerva tem planta no país vizinho. O preço do boi no Paraguai é de 5% a 10% mais caro do que o brasileiro — a diferença pode compensar a venda do boi vivo. De toda carne exportada no ano passado, 8% teve como destino os EUA.

 

É hoje o segundo maior mercado, atrás de China. Antes do anúncio do tarifaço de 50% esta semana, havia expectativa de que essa participação subisse para 14%. JBS e Marfrig ainda não se manifestaram sobre o impacto do tarifaço.

 

 

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