Em derrota do governo, Congresso aprova mudança no licenciamento ambiental

O outro é uma emenda que pode acelerar a exploração de petróleo na margem equatorial. Proposta pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), ela determina que a resposta sobre licenças ambientais para projetos estratégicos deve ser dada em um ano no máximo.

A medida seria uma resposta aos órgãos ambientais. Parlamentar do Amapá, Alcolumbre reclama que seu estado tem indicadores econômicos e sociais baixos porque a legislação impede a exploração do potencial local mesmo com medidas de proteção à natureza.

Relator do projeto, Zé Vitor posa para foto com Tereza Cristina, ministra no governo Bolsonaro
Relator do projeto, Zé Vitor posa para foto com Tereza Cristina, ministra no governo Bolsonaro Imagem: Reprodução Instagram

Ambientalistas chamam a proposta aprovada de “PL da Devastação”. ONGs e deputados da esquerda dizem que o projeto facilita a emissão de licenças sem haver compromisso de proteção a florestas, rios, lençóis freáticos e solo.

O relator do projeto, Zé Vitor (PL-MG), rebate a acusação. O deputado é coordenador político da FPA (Frente Parlamentar do Agronegócio) e declarou que não há afrouxamento das leis, mas a adoção de padrões e estabelecimento de prazos.

A bancada ruralista acredita que haverá judicialização do assunto. Os parlamentares reclamaram que a esquerda não aceita as derrotas e recorre ao STF (Supremo Tribunal Federal) para mudar resultados do plenário.

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) disse que o projeto é inconstitucional. Em discurso na tribuna, ele afirmou que há motivos para acionar a Justiça.

Também é dado como certo que haverá veto de Lula. A expectativa é que o artigo que muda as atribuições do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) seja alvo da tesoura do presidente. Os ruralista afirmam que têm votos para derrubar o veto.

Agro impôs sua força e aprovou o projeto com ampla margem de votos
Agro impôs sua força e aprovou o projeto com ampla margem de votos Imagem: IDR Paraná

PT dividido

Os ruralistas esperavam apoio do PT. A expectativa se baseava em manifestações de ministérios ligados ao agronegócio, mineração e infraestrutura serem favoráveis à proposta porque poderia destravar obras.

Somente Marina Silva estava contra. O isolamento do Ministério do Meio Ambiente não é novidade, e as tentativas de entendimento não surtiram efeito.

Mas a atitude do PT mudou quando o assunto chegou à Câmara. A liderança do partido e a liderança do governo orientaram contra a aprovação das novas regras no licenciamento.

A bancada ruralista informou que aceitava ceder em alguns pontos para haver acordo. A atitude foi abandonada porque ficou entendido que havia posição ideológica por parte do PT. Nas palavras de uma deputado do agronegócio, a situação demonstrou que o Planalto não controla sua bancada.

Licenciamento sem estudo

O projeto tem dois pontos bastante polêmicos. Um deles é a LAC (Licenciamento por Adesão e Compromisso), que permite ao empreendedor receber a licença após entregar um documento se comprometendo a adotar medidas de proteção ambiental.

O rito para autorização é criticado por não haver estudos prévios. A licença é emitida a partir de critérios prestabelecidos pelo órgão público, mas é o próprio empresário que determina as medidas que vai seguir para preservar a natureza.

A verificação do cumprimento dos compromissos é considerada precária pelos ambientalistas. O projeto aprovado prevê fiscalizações por amostragem e não estipula um percentual mínimo. Havia um dispositivo que obrigava avisar o empreendedor com 24 horas de antecedência em caso de visita de fiscais. Esta regra foi retirada da proposta.

O relator do projeto refuta falta de rigor. Zé Vitor afirmou que haverá ganho de produtividade porque um servidor público consegue atender a dois licenciamentos por mês, mas é capaz de fazer 15 fiscalizações no mesmo período.

De acordo com deputado, a possibilidade permanente de fiscalização obrigará o empreendedor a respeitar os termos da licença. O deputado falou que hoje é feito um processo demorado que depois não é cumprido por falta de fiscais, processo que ele classifica como custoso e ineficaz.

Emenda de Alcolumbre

Interessado no petróleo no rio Amazonas, Alcolumbre usou seu peso político. Partiu dele a ideia da LAE (Licença Ambiental Especial). Ela permite que o governo federal escolha projetos estratégicos que têm prioridade de avaliação.

As autoridades ambientais devem dar a resposta sobre a licença em um ano. Os ambientalistas reclamam que o dispositivo fragiliza a proteção porque há estudos que levam bastante tempo e precisarão ser acelerados.

Houve dúvida sobre incluir ou não a emenda no projeto. Zé Vitor afirmou que avaliaria se não era mais conveniente tratar do caso em um projeto específico. Desta forma, haveria maior detalhamento. Ao final, prevaleceu a emenda de Alcolumbre.

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