Congresso e governo fazem preliminar de luta marcada para o 2º semestre

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a cumprimentar o Congresso em entrevista coletiva, celebrando também a aprovação de um projeto que autorizou a venda de poços de petróleo no pré-sal.
Porém, na madrugada de quinta-feira, os deputados aprovaram o direcionamento de 30 bilhões de reais da venda desses poços de petróleo para refinanciar dívidas do agronegócio. A medida pegou o governo de surpresa e transformou o que seria uma semana de comemorações em mais um período de tensão.

“O Haddad estava feliz da vida, porque ressuscitou o IOF e ainda ia ganhar uma graninha extra com os poços. O que ele não previu é que o Congresso estava preparando a sua vingança para comê-la fria”, observa José Roberto de Toledo no podcast A Hora desta sexta-feira (18). “O que era uma semana só de comemorações, virou uma semana de novo de fazer conta lá no Ministério da Fazenda para ver se a conta fecha”, completa.

A votação foi esmagadora: 346 votos a favor e apenas 93 contra, deixando o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), indignado. Ele subiu à tribuna para reclamar da bancada ruralista e dar indiretas à presidência da Casa, que decidiu colocar o projeto em votação mesmo com tentativas de acordo em andamento.

O episódio mais dramático da noite veio às 3 da manhã, quando foi aprovado o polêmico PL da licença ambiental, também conhecido como “PL da devastação” ou “a mãe de todas as boiadas”. O projeto flexibiliza o licenciamento ambiental e permite o auto-licenciamento para empreendimentos de “baixo e médio risco”.

“90% da mineração feita no Brasil é empreendimento classificado como médio risco”, alertou o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, citado por Bilenky. “Isso significa que todos esses empreendimentos de mineração vão migrar para o sistema de auto-licenciamento, que prescinde de avaliação técnica do risco ambiental”, completa a colunista do UOL.

O projeto passou com 267 votos a favor e 116 contra. A ministra Marina Silva tentou articular com o presidente da Câmara, Hugo Motta, para evitar a votação, mas não conseguiu. Apesar da pasta chefiada por Marina ter se posicionado contra o projeto, o texto teve apoio da Casa Civil de Lula.

Para Toledo, o episódio ilustra o que será o segundo semestre de 2025: “Uma disputa. A metáfora mais simplista e menos dramática que eu posso usar é a do cobertor curto. O governo puxando o cobertor, tirando dos ricos para cobrir os pobres, ou seja, transferindo dinheiro do orçamento federal dos ricos para os pobres, e os empresários pressionando os congressistas a fazerem exatamente o oposto.”

A escalada de tensão revela um Congresso cada vez mais independente e disposto a desafiar o Executivo. “Os parlamentares, deputados principalmente, mas também senadores, perderam qualquer tipo de vergonha de aprovar aumento de vaga de deputado, de aprovar dinheiro para rico, de aprovar ladrilhamento da Amazônia”, avalia Toledo.

O cenário aponta para um segundo semestre turbulento, com o governo enfrentando um Congresso reorganizado e mais articulado na oposição às suas principais bandeiras econômicas e ambientais. A antecipação da campanha presidencial já começou a influenciar as decisões parlamentares, sinalizando que a disputa pela sucessão de 2026 já está em curso nas votações de Brasília.

A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. O Canal UOL está disponível na Claro (canal nº 549), Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64), Samsung TV Plus (canal nº 2074) e no UOL Play.
Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados.

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