Petistas têm elogiado a atitude mais recente do presidente Lula (PT) frente aos debates nacionais. O argumento é que ele “finalmente tomou as rédeas do governo”.
O que aconteceu
Aliados dizem que o enfrentamento que Lula com certos setores tem feito trouxe ânimo ao governo —mesmo que não se tenha a certeza se a estratégia vai dar certo ou não. Eles atribuem parte do desânimo do terceiro mandato ao Executivo se mostrar muitas vezes “impotente” frente ao Congresso e não conseguir reagir às crises.
Petistas usam os episódios recentes para mostrar uma mudança, mesmo que passageira. Tanto na judicialização da derrubada do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) quanto no veto ao aumento do número de deputados, Lula contrariou o Legislativo, que evidenciou sua insatisfação com retaliações nos dois casos.
O ponto dos apoiadores é que o governo finalmente saiu da reação e foi para ação —algo que ainda não tinha acontecido neste mandato, dizem. No primeiro caso, a comunicação do Planalto reverteu a crise como uma luta de “ricos contra pobres” por “justiça tributária” e, por meio de imagens de IA (inteligência artificial), pintou o Congresso como vilão. No segundo episódio, a pauta já era impopular e, segundo auxiliares, ele só não vetaria para não piorar a crise com o Parlamento.
Eles dizem não ver como estranho que isso reverbere bem nas pesquisas de opinião. O argumento é que o petista “manteve coerência” entre círculos de esquerda que o elegeram e ainda soube aproveitar o apoio popular —o que ajuda a dosar uma resposta do centrão, avaliam aliados.
Como resolver essas sinucas de bico era um debate constante tanto no PT quanto no governo. Aliados mais à esquerda pediam o embate, muitas vezes apoiados pela equipe econômica por questões de Orçamento, ao passo que a articulação política sempre ponderou que quanto maior o desgaste com o Congresso, governado pelo centrão, pior para o governo.
Manobra parecida foi adotada frente às tarifas de Donald Trump. Lula tem questionado duramente a proposta do presidente norte-americano de taxação de 50% ao Brasil, com discursos frequentes e duros, chamados pela oposição de “oportunistas”.
Apoiadores mais à esquerda dizem que “até demorou”. Para correntes, parte delas derrotadas nas eleições gerais do partido neste mês, o presidente não ia crescer se não se voltasse ao discurso que o elegeu em 2022. Até o novo presidente petista, Edinho Silva, conhecido moderado, assumiu a legenda falando em “voltar às origens”.
Virada ou fotografia de momento?
Ninguém do círculo mais próximo do presidente gosta de falar em “virada”. Os mais pragmáticos do governo lembram que, em Brasília, o cenário muda em minutos e, por isso, nega rompimento ou mesmo rusga com o Congresso. Interlocutores do Planalto dizem que historicamente Lula “resolve as coisas na conversa” e que este deverá ser o tom que vai prevalecer.
Por ora, ele não tem falado com os presidentes do Congresso, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) e o senador Davi Alcomulbre (União-AP). Eles foram apoiados pelo governo e afagados por Lula no início do ano, mas o presidente deixou claro a aliados que considerou o caso do IOF uma traição de ambas as partes. Ninguém descarta, entretanto, uma nova foto dos três felizes, sem estimativa de data.
Encabeçada pela comunicação de Sidônio Palmeira, parte do governo quer seguir no tom do assertivo. Há um entendimento que 2026 já começou e que essa postura tem de ser mantida até a eleição, mesmo que entre em atrito com os líderes das duas Casas. Para este grupo, é exatamente ao “escolher um lado” que Lula fala com seu eleitorado mais fiel e pode conquistar novos votos.
Também há a questão da marca do governo. Até então, o Lula 3 carecia de um rosto, como tiveram os outros mandatos do presidente. A comunicação e o circulo petista viram neste “ricos contra pobres”, com taxação de grandes fortunas e isenção do IR, o legado concreto que ele poderá levar ao palanque no ano que vem.
Há limitações
A base diz que o governo vive “um bom momento” e que o desafio é a manutenção. Da mesma forma que a contraposição à “destruição do governo Bolsonaro” foi popular no início do mandato, mas saturou e começou a se voltar contra o próprio governo, sob o argumento de assumir as próprias responsabilidades, estas pautas também têm de ser trabalhadas com cuidado.
O ponto é que essa atitude “mais altiva”, como chamam, também deixa o presidente mais exposto —o que pode funcionar momentaneamente, mas também trazer revezes. O próprio Lula gosta de lembrar que o governo depende do Congresso e, com o fantasma do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, tudo é baseado em como o público está encarando a economia.
Eles citam o caso de Trump. Lula decidiu pelo discurso do confronto, enquanto o Itamaraty e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) negociam a parte diplomática e econômica: se as negociações derem certo, o presidente tem o bônus. Se tudo fracassar e houver uma crise econômica, também deverá sofrer com o ônus.
A oposição já tem chamado as manobras do governo de “populismo eleitoral”. Para líderes do centrão e da centro-direita, caso o governo fracasse, o discurso de desequilíbrio e de não saber gerir crises já está pronto e deverá ser amplamente usado.
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