Conflitos no campo batem recorde no governo Lula, com 2.203 casos, diz CPT

Para a entidade, o governo Lula 3 não conseguiu avançar nas pautas rurais, e o campo enfrenta o maior número de conflitos já registrado. A quantidade de casos bateu recorde em 2023, no terceiro mandato do presidente Lula, chegando a 2.203.

A violência, que sempre foi alta, explodiu a partir de 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, que defendia o modelo de uso e exploração irrestritos de terras. A gestão Lula não reverteu a tendência.

Para a CPT, o atual governo segue o modelo de anteriores ao não priorizar a reforma agrária e ao dar bilhões em financiamento público aos setores que mais geram disputas. O período é de “aumento da violência, tanto do poder privado como do poder público”, diz a entidade.

A persistência dos conflitos no campo brasileiro, em pleno século 21, revela a atualidade da questão agrária no Brasil, país historicamente marcado pelo extrativismo, o latifúndio, a monocultura e a violência desde a invasão colonial imposta aos povos originários e aos povos pretos capturados e escravizados. Tais marcas fundantes do espaço agrário brasileiro se atualizam ao sabor das mudanças da sociedade brasileira, desde o século 14 até este início do atual século, sem deixar jamais de fazer parte da nossa história e da nossa geografia, ainda que de maneiras diferenciadas no tempo e no espaço.
Atlas da CPT

Dos 50 mil conflitos no período, 80% foram causados pelos chamados “atores hegemônicos”, que são fazendeiros, empresários, grileiros e o próprio Estado —apenas 20% foram provocados por movimentos sociais do campo.

As motivações foram:

  • 84%- disputas por terra
  • 8,9% – casos de trabalho escravo
  • 7,1% – conflitos por água

Lula 3 não rompeu ciclo

A CPT menciona que o poder público chegou a representar 36% das ações de violência contra os povos rurais em 2020, na pandemia, no governo Bolsonaro. “O aumento da violência do poder público e privado cresce na esteira de um discurso de criminalização dos movimentos sociais e de fortalecimento da política em defesa do agronegócio”, diz.

O governo Lula 3, afirma, “não conseguiu reverter a estrutura de violência tanto do Estado como do poder privado produzida no contexto da ruptura política, mantendo altos níveis de violência no campo”.

Marcha do MST no Rio Grande do Sul em 2015, ano que, para a CPT, marca aumento de violência
Marcha do MST no Rio Grande do Sul em 2015, ano que, para a CPT, marca aumento de violência Imagem: Lauro Alves/Agência RBS/Folhapress

O documento diz que a vitória do petista em 2022 trouxe esperança de que se revertessem as “tendências autoritárias que se agravaram nos anos anteriores”. Entretanto, as coisas não ocorreram como esperado, e houve manutenção do cenário de medo e violência ampliados pelo governo Bolsonaro, que resultou no número recorde de conflitos em 2023.

Apesar de não constarem no Atlas, os dados mostram que a tendência seguiu em 2024. A soma dos conflitos dos dois primeiros anos do governo já supera os quatro anos das eras Lula 1 e 2.

Apesar da retomada da homologação de algumas terras indígenas, a ausência de outras formas de reconhecimento e redistribuição de terras indica que, apesar de uma reaproximação do diálogo com os movimentos sociais do campo, o consenso das commodities [produtos básicos e matérias-primas produzidos em grande escala para exportação] persiste.
Atlas da CPT

A CPT reclama que o governo continua entregando grande volume de recursos ao agronegócio, seja por financiamento direto, como pelo plano Safra, ou de forma indireta, com obras de infraestrutura. O agronegócio é quem estaria pressionando comunidades campesinas em disputas territoriais, em regra.

Em 2023, a entidade cita que os conflitos pela água, por exemplo, continuaram numerosos, mostrando um fortalecimento estrutural do agronegócio e do setor mineral na apropriação desses recursos.

Com isso, as frentes econômicas continuam se aprofundando na Amazônia, mantendo o crescimento dos rebanhos bovinos, da área plantada com soja e da exploração mineral na região, bem como os conflitos delas decorrentes.
Atlas da CPT

O estudo destaca que hoje os conflitos não são mais gerados apenas pelo agro, mas também em disputas por projetos hídricos, de mineração e por novos empreendimentos de energia solar e eólica.

A expansão do agronegócio e de outros negócios no campo se dá com a permanente incorporação de novas terras, uma das bases da acumulação do capital. A ampliação do domínio territorial e abertura de novas fronteiras ocorre por meio de processos violentos de apropriação e expropriação dos recursos naturais, terras e territórios. É comum que esses processos […] se sobreponham aos territórios dos povos tradicionais, a assentamentos rurais e aos espaços dos trabalhadores no campo, desterritorializando os povos ali existentes.
Atlas da CPT

Acesso limitado para moradores da comunidade quilombola  Cumbe, em Aracati (CE), por empresa de energia eólica
Acesso limitado para moradores da comunidade quilombola Cumbe, em Aracati (CE), por empresa de energia eólica Imagem: Arquivo pessoal

Violência contra pessoas cai

Entre 1985 e 2023, foram 14.681 ocorrências de violência contra pessoas, o que dá mais e um caso por dia, em média. São contabilizados quatro tipos de casos:

  • Assassinatos
  • Tentativas de assassinatos
  • Ameaças de morte
  • Prisões

Dos 2.008 assassinatos registrados de 1985 a 2023, 66,8% foram na Amazônia.

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