Réu no núcleo 4 da trama golpista, o ex-major do Exército Ailton Barros afirmou hoje, no STF, que mandou mensagens e fez posts a favor de um golpe como “marketing” para impulsionar sua carreira política e se aproximar do general Braga Netto.
O que aconteceu
Aílton Gonçalves Moraes Barros negou que tenha articulado para pressionar o comandante do Exército a aceitar um golpe. Ele disse que agiu, sim, para conseguir votos. “Minha cabeça era só voltada para a política”, afirmou ele, que foi candidato a deputado estadual pelo Rio de Janeiro em 2022 e se apresentou na campanha como “01 do Bolsonaro”. O ex-major terminou a eleição na lista de suplentes.
Para tentar se eleger, Ailton contou que resolveu apostar em engajamento nas redes sociais. Com isso, fez posts, considerados pela Polícia Federal como de teor golpista, para chamar a atenção.
A estratégia, segundo ele, foi aprendida num curso de marketing. Em 19 de dezembro de 2022, Ailton publicou no X (antigo Twitter) que os acampamentos de bolsonaristas na frente dos quarteis separariam “os homens das criancinhas” e responsabilizariam “os omissos, covardes e os fracos”. Ao fim do post, o ex-major marcou o perfil do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o que seria de Freire Gomes, então comandante do Exército.
Nós aprendemos que criar e gerar expectativa nas pessoas pode ser muito eficaz para a obtenção do marketing, do que se deseja lançar. Seja uma ideia, seja um produto, seja um evento pode ser muito eficaz. A minha ideia, excelência, minha ideia pura e simples, quando eu lancei isso aí, era aumentar o meu número de seguidores, mas não que eu quisesse ter influência: leia-se seguidores/eleitores. A minha cabeça era só voltada para a política.
Ailton Gonçalves Moraes Barros, em interrogatório no STF na ação penal da trama golpista
Ailton disse que mensagens de Braga Netto para ele eram “choradeira de quem perdeu”. Ele negou que tenha feito “ataques aos militares” que não teriam aderido ao plano golpista. De acordo com a PGR, Braga Netto, ex-chefe da Casa Civil e candidato a vice de Bolsonaro em 2022, orientou Ailton Barros a atacar o tenente-brigadeiro Baptista Júnior, então comandante da Aeronáutica, que negou apoio à trama golpista, e elogiar o almirante de esquadra Almir Garnier Santos. Comandante da Marinha à época, Garnier teria endossado o plano.
Ailton disse ter visto as mensagens não como “orientação”, ” mas desabafo”. Interceptadas pela Polícia Federal, as conversas mostram o general dizendo a Ailton para sentar “o pau no Baptista Júnior”, ele também o chama de “traidor da pátria” e afirma que é preciso “infernizar a vida dele e da família”. “Elogia o Garnier e fode o BJ”, teria afirmado, ainda, Braga Netto.
Ex-major negou ter relação com Braga Netto e disse que se aproximou dele por interesses políticos. “Eu tinha interesse em me aproximar do general Braga Neto, por ele ter sido interventor no Rio de Janeiro. Era uma pessoa da área de segurança pública. Eu tenho projetos na área de segurança pública, tenho projetos políticos em relação à comunidade”, contou.
Relatou ainda que mensagens com teor golpista seriam para agradar Braga Netto. O réu contou ter se aproximado do general ao enviar mensagens para ele “por engano”. Ao perceber que Braga Netto logo respondeu, culpando Freire Gomes pelo que ocorria na época, Ailton teria prometido manter a pressão sobre o comandante do Exército, ameaçando “oferecer a cabeça dele aos leões”, caso ele mantivesse sua posição. Braga Netto concordou e respondeu: “Oferece a cabeça dele. Cagão.”
Eu quero me aproximar do general Braga Netto. Então, eu dou respostas, que vão… ao encontro do general Braga Neto. Eu procuro ali frases de efeitos, como essa de entrega a cabeça dele aos leões. Então, não tem como entregar a cabeça dele aos leões. Mas eu os lancei para o general Braga Neto e observei, na resposta que veio, que ele gostou, interagiu ali, teve interlocução comigo. Eu falei, bem, o primeiro passo (para aproximação) foi dado
Ailton Gonçalves Moraes Barros, em interrogatório no STF na ação penal da trama golpista
Réus do núcleo 4 são interrogados
Primeiro réu a ser interrogado, Marcelo Bormevet negou as acusações. “Não houve nenhum animo meu de desestabilizar instituições democráticas, Não conheço nenhum grupo, não sei quem são”, disse o policial federal, acusado de fazer parte de um núcleo dentro da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) que monitorava ilegalmente autoridades. Os interrogatórios estão sendo conduzidos por Luciana Sorrentino, juiza auxiliar do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator no STF da ação sobre tentativa de golpe.
O chamado “núcleo das fake news” inclui cinco militares de patente mais baixa, um agente da Polícia Federal e o presidente do Instituto Voto Legal, que foi contratado pelo PL para embasar a ação que pediu uma “verificação extraordinária” das urnas após o segundo turno em 2022. O grupo é acusado de propagar notícias falsas e fazer ataques virtuais a instituições e autoridades dentro da estratégia golpista para manter Bolsonaro no poder. São eles:
Ailton Moraes Barros, ex-major do Exército;
Ângelo Denicoli, major da reserva do Exército;
Giancarlo Rodrigues, subtenente do Exército;
Guilherme Almeida, tenente-coronel do Exército;
Reginaldo Abreu, coronel do Exército;
Marcelo Bormevet, agente da Polícia Federal e
Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, presidente do Instituto Voto Legal.
Os sete são réus pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas máximas podem ultrapassar 40 anos de prisão.
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