A produção global de trigo deve ser recorde na atual safra, mas os estoques mundiais continuam apertados, aponta o consultor de risco da StoneX, Jonathan Pinheiro. As estimativas atuais apontam para uma produção mundial entre 808 milhões e 809 milhões de toneladas do cereal, representando um volume recorde. O consumo, por sua vez, também deve atingir patamares históricos, variando entre 806 e 809 milhões de toneladas. Diante desse cenário de alta demanda, os estoques permanecem apertados.
Segundo Pinheiro, que participou, na quinta-feira (31/7), de reunião da Câmara Setorial do Trigo do Estado de São Paulo, os estoques globais de trigo vêm diminuindo há cerca de seis safras consecutivas, refletindo uma diferença persistente entre o crescimento da produção e um consumo que avança em ritmo mais acelerado.
Apesar disso, o consultor observa uma estabilização da relação estoque/uso ao longo dos últimos três anos, o que indica algum equilíbrio momentâneo entre oferta e demanda.
A situação muda, porém, quando se exclui a China da equação. O país detém cerca de 51% dos estoques mundiais do cereal, e sua menor participação nas importações nesta temporada, aliada à expectativa de recuo nas compras para a próxima safra, tem ampliado a disponibilidade global para o mercado internacional.
“Temos um fôlego em relação a essa redução da oferta mundial”, avalia Pinheiro. No entanto, a situação inspira atenção.
“Essa é uma bomba que talvez não estoure agora, mas a gente tem que ficar atento. Existe uma preocupação, porque com o estoque apertado, qualquer interferência — como guerra, entraves logísticos ou problemas geopolíticos — pode ser um gatilho muito forte para uma recuperação de preços”, avaliou.
Preços
O mercado internacional passou por ajustes desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, que gerou uma forte alta nas cotações. Recentemente, o cenário vem se estabilizando. “Talvez já tenhamos passado do piso do mercado e agora vemos uma menor amplitude de preços”, afirmou.
Nesta sexta-feira (1º/8), os papéis com entrega para setembro fecharam em queda de 1,24%, cotados a US$ 5,1675 o bushel.
Segundo o consultor, o mercado já teria se ajustado a um patamar mais baixo de preços, mas o espaço para novas quedas seria hoje mais limitado do que o potencial para altas diante de eventos inesperados.
Fator Argentina
A Argentina, principal fornecedora de trigo para o Brasil, deve exercer forte influência sobre os preços do cereal no mercado brasileiro nos próximos meses. Para a próxima temporada, a estimativa é que o país vizinho exporte entre 13 e 14 milhões de toneladas de trigo. Segundo Pinheiro, esse volume expressivo exige que a Argentina se mantenha competitiva no mercado internacional, o que tem provocado uma pressão de oferta sobre o cereal.
“Para ela exportar todo esse volume, ela precisa de preço, ser competitiva. Então há uma grande pressão de oferta no trigo argentino. Isso derruba as cotações na Argentina e nossas paridades de importação e preço aqui no Brasil também”, afirmou.
A nova safra argentina já teve o plantio concluído e deve começar a ser colhida em dezembro. Até o momento, as lavouras apresentam bom desempenho, com 50% da área classificada como boa ou ótima, índice superior à média dos últimos anos, que é de 31,9%. A produção esperada é de 20 milhões de toneladas.
O cenário de preços mais baixos, impulsionado pela oferta abundante da Argentina, pode representar desafios para produtores e moinhos brasileiros. Em contrapartida, uma safra menor no Brasil poderia levar a um aumento na necessidade de importação, o que, somado ao preço atrativo do trigo argentino, favoreceria a entrada do produto no mercado nacional.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima a safra nacional em 7,81 milhões de toneladas, volume 11,2% abaixo da colheita anterior.
Colheita no mundo
A colheita de trigo avança rapidamente nos Estados Unidos, enquanto na Europa, especialmente na França, os trabalhos estão praticamente concluídos. No entanto, há relatos de baixa qualidade no trigo europeu devido ao excesso de chuvas durante o período de colheita, situação que também afeta países da região do Mar Negro, informa Pinheiro.
A Ucrânia, por exemplo, já revisou para baixo sua estimativa de produção. Inicialmente prevista em 23 milhões de toneladas, a nova projeção aponta para 22 milhões. Já na Rússia, a colheita ainda está em fase inicial, mas há expectativa de maior pressão de oferta, mesmo com uma produção um pouco menor em relação ao ano anterior.
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