Deu a louca nas cores da guerra política do Brasil

A bandeira deles nunca seria vermelha. Mas nada constava sobre bonés.

Tarcísio de Freitas (Republicanos) aderiu sem dó. Foi às redes no dia da posse de Donald Trump, em 20 de janeiro, e celebrou: “Grande dia”.

Sobre a testa era possível ler o acrônimo da campanha Make America Great Again do republicano.

Tarcísio, que já ouviu até “volta para o PT” ao ser elogiado em evento público por Lula (PT), não foi o primeiro nem seria o último representante do bolsonarismo a vestir vermelho (ao menos da testa pra cima).

O ex-chefe, Jair Bolsonaro (PL), não pôde ir à posse do ídolo no início do ano. Mas enviou a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e antes de deixar o Aeroporto de Brasília, voltou para fazer o que considerou a “foto mais importante” do dia. Botou o boné do MAGA e vermelhou.

Filhos e aliados já haviam feito o mesmo.

O rubro do rubor do seu amor era maior do que a coerência —até então vestida com uma camisa da CBF e o sequestro das cores da bandeira nacional.

Por ironia, Lula e os companheiros costumam deixar desbotar o vermelho, cor do Partido dos Trabalhadores, sempre que precisam ampliar o diálogo para além da militância.

Isso desde os tempos de Dilma Rousseff, que passou parte da campanha de 2014 vestida de azul para mostrar que era “mãe de todos”, e não só do Aloizio Mercadante.

A então presidente Dilma Roussef veste azul em campanha pela reeleição durante carreata em Uberaba (MG)
A então presidente Dilma Roussef veste azul em campanha pela reeleição durante carreata em Uberaba (MG) Imagem: Edson Silva 22.out.14/Folhapress

Em 2022, o campo progressista reivindicou de volta as cores da bandeira num tempo em que o eleitor antipático a Bolsonaro precisava vestir a camisa azul da seleção em dia de jogo para não ser confundido com algum integrante das micaretas organizadas por Silas Malafaia em Copacabana ou na avenida Paulista.

Vencida a disputa, o verde e o amarelo foram parar na logomarca do governo federal empossado em 2023 com os dizeres “união e reconstrução”. O vermelho aparecia nos cantos das letras B e S.

Mas foi azul que Lula, ministros e apoiadores botaram na cabeça na chamada “guerra dos bonés” em fevereiro, numa cutucada não muito indireta para acusar o vira-latismo de bolsonaristas que aderiram ao vermelho Maga e prometiam fazer a América grande novamente a 6.815 quilômetros de Washington, a capital americana.

O boné governista vinha com a inscrição “O Brasil é dos brasileiros”, e tinha a assinatura de Sidônio Palmeira, publicitário escalado para orientar a vestimenta e a Secretaria de Comunicação de Lula.

Sucesso naquele mês, o item andava fora de moda até Donald Trump se irritar com a reunião dos Brics no Rio e usar o processo contra Bolsonaro como pretexto para taxar as exportações brasileiras em 50%.

A agressão provocou uma onda nacionalista que não se via no Brasil desde que o colombiano Juan Camilo Zúñiga tirou Neymar da Copa de 2014 com uma joelhada na costela do nosso melhor produto de exportação.

Trump deu a Lula um inimigo comum, um discurso em defesa da soberania nacional e o apoio de setores resistentes ao PT, do agro ao centrão. Deu também a chance de tirar a naftalina do boné azul do Sidônio do armário.

Quem não fez coro à grita foi justamente a turma patriota do boné vermelho.

Pelo contrário: Tarcísio, Eduardo Bolsonaro e grande elenco vibraram tanto com as medidas prejudiciais ao país que só faltaram escrever “bem feito” nas redes. Um erro de cálculo político que nem se tatuassem a bandeira verde e amarela na testa poderiam remover.

Pudera: o patriotismo da turma não vai até a segunda página da cartilha da direita global, liderada pelos estrategistas norte-americanos e que tem Donald Trump como líder supremo.

Não bastasse o desprezo da turma por artistas e manifestações culturais do próprio país, é para a bandeira deles que o preposto brasileiro da seita bate continência e chora quando ouve o hino.

*Matheus Pichonelli é jornalista e cientista social, com passagens por Folha de S.Paulo, iG, Carta Capital, Yahoo!, Intercept Brasil e UOL, além de colaborações para a revista Piauí e o jornal O Globo. Atualmente é roteirista do ICL Notícias.

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