Em 2023, a polinização animal contribuiu com parcelas entre 5% a 25% do valor da produção agrícola e extrativista brasileira, de acordo com cada produto, segundo estudo inédito do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado nesta quinta-feira (17/7).
A abelha é o mais conhecido e também o principal desses animais, pela abundância e eficiência. A polinização desempenha função tanto na manutenção das espécies vegetais quanto na cultura dos alimentos e é fundamental para a sustentabilidade dos sistemas agrícolas e extrativistas.
Esse efeito é estimado a partir do chamado indicador de contribuição dos polinizadores no valor da produção, índice que pondera o valor de produção de cada produto por seu grau de dependência de polinização. Os percentuais de 5% e 25% são os valores mínimos e máximos obtidos pelo indicador. Em 2023, o valor médio desse índice foi de 16,14%, apresentando crescimento em relação a 1996 (14,4%).
As informações desse novo estudo do IBGE foram obtidas a partir de dados das pesquisas anuais da Produção Agrícola Municipal (PAM) e Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS). O instituto calculou a ação da polinização ao longo do tempo, com uma série histórica que vai de 1975 a 2023, de acordo com o dado, tanto para o Brasil quanto para as grandes regiões e os municípios brasileiros.
A polinização afeta a formação dos frutos e sementes que são comercializados ao consumidor final, seja pelo número de sementes por fruto, pelo tamanho do fruto (peso e volume) ou pela qualidade (concentração de açúcar, formato e concentração de nutrientes, por exemplo).
Os efeitos da polinização são diferentes conforme o modo de produção – culturas temporárias ou permanentes. Para as lavouras temporárias, em 2023, o indicador médio foi de 12% e para as permanentes, de 38,7%.
No extrativismo, essa contribuição é maior, de 47,2%. Também foi na produção extrativista que houve maior crescimento proporcional da ação dos polinizadores: o percentual era de 21,8% em 1996. Para as lavouras temporárias, o indicador em 1996 era de 7,3% e para as permanentes, 36,4%.
Ao nível municipal, houve crescente contribuição da polinização para a produção agrícola nos últimos anos. Em 2023, 19% dos municípios tinham mais de um quarto do seu valor de produção impactado pela ação dos animais polinizadores. Em 1996, eram 15%.
Mais da metade (52,2%) dos 67 produtos investigados na Produção Agrícola Municipal (PAM) dependia, em algum grau, de polinização animal. Entre os cultivos temporários, essa taxa foi de 31,2% e, entre os permanentes, chegou a 71,4%.
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Dependência da polinização
A pesquisa do IBGE distribui os produtos em quatro classes de dependência em relação aos polinizadores, de acordo com o maior ou menor grau de influência na quantidade produzida.
Do maior para o menor grau de influência, as classes são essenciais (taxa entre 0,90 e 1); alta (taxa entre 0,40 e 0,89); modesta (taxa entre 0,10 e 0,40); e pouca (taxa entre 0,01 e 0,09). Os demais produtos são classificados como sem dependência de polinização animal.
Entre os cinco produtos de culturas temporárias com maior ocupação de área, dois pertencem à classe de dependência modesta (soja e feijão) e três pertencem à classe sem dependência (milho, cana e trigo).
A classe de dependência modesta teve o maior aumento na série da pesquisa, saindo de 39% em 1975 para 53,5% em 2023. Os cultivos sem dependência perderam participação de 53,4% em 1975 para 43,8% em 2023. Esse padrão está relacionado, principalmente, à expansão dos produtos das culturas temporárias, que ocupam a maior parte da área cultivada, especialmente a soja, segundo o IBGE.
Entre as lavouras temporárias, em 2023, cerca de 54% da área colhida foi ocupada por produtos de dependência modesta e 45%, sem dependência. Em 1975, essas classes representavam, respectivamente, 32,3% e 65,8%.
Já entre as permanentes, em 2023, a classe de dependência modesta ocupou 41,2% da área colhida, embora corresponda a apenas 19,4% dos produtos, tendo café arábica, laranja e coco-da-baía como os produtos mais expressivos. Houve queda em relação a 1975, quando essa classe ocupava 76,5% da área de cultivo das lavouras permanentes.
Os produtos da classe de dependência essencial representavam 8,7% das lavouras permanentes em 1975 e passaram a ocupar 20,5% da área em 2023, destacando-se o cacau e o caju com as maiores áreas de cultivo.
Em relação à quantidade produzida, em 2023, os produtos sem dependência eram responsáveis por 82,4% do total no país. Já os cultivos de dependência modesta representavam 15,9%.
Dentre os cultivos temporários, os sem dependência são responsáveis pela maior parte da quantidade produzida (85%). Os produtos da classe modesta representam 14,8%. Entre os cultivos permanentes, a classe de dependência modesta (44,7%) é predominante, destacando-se também as classes de alta (20,1%) e sem dependência (18,5%).
Para os produtos do extrativismo, investigados pela PEVS, 39,3% se beneficiam da polinização animal. Em 2023, houve predomínio da quantidade produzida em produtos sem dependência (55,6%) no extrativismo, mas com percentuais elevados para as classes essencial (12,9%) e alta (28,4%), que somadas atingem 41,2% da quantidade total em 2023.
Esse novo estudo do IBGE está incluído no chamado Sistema de Contas Econômicas Ambientais (SCEA ou SEEA, na sigla em inglês), desenvolvido pela Divisão de Estatísticas da Organização das Nações Unidas (UNSD/ONU). A ideia é integrar dados econômicos e ambientais, para que se possa medir e organizar informações sobre os ecossistemas e seus serviços em termos físicos e econômicos.
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