Brasil tem pouca margem de manobra para retaliar EUA, dizem especialistas

O Brasil tem pouca margem de manobra para retaliar ou reverter as tarifas totais de 50% sobre as exportações do país anunciadas pelo governo dos Estados Unidos nesta quarta-feira (30). A opinião é de especialistas ouvidos pelo Valor, que acrescentam que as taxas são coercitivas e com fundamento político em vez de econômico.

A economista Lia Valls, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV), avalia que as 694 exceções listadas pelos Estados Unidos ao tarifaço dificultam uma eventual adoção da Lei de Reciprocidade, que chegou a ser cogitada pelo governo em um último momento. Para ela, a exclusão de produtos que poderiam causar impactos à economia americana da tarifação reduz o poder de fogo do Brasil em uma eventual retaliação.

A saída, neste caso, seria continuar tentando negociar com o governo de Donald Trump, afirmou. “O que o Brasil pode fazer agora é continuar negociando, dizendo que está aberto a negociar, desde que [na pauta] não entre a questão Bolsonaro”, diz.

Pedro da Motta Veiga, diretor do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes), afirma que esse patamar de tarifa “veio para ficar”. Ele ressalta que a taxa de 50% é coercitiva, com fundamento político. e não econômico, mas o grande número de exceções torna a medida menos danosa do que se imaginava.

Motta Veiga acrescenta que, apesar do critério não econômico da sanção, houve “um certo cuidado” com a modulação de acordo com os interesses americanos. Muitos insumos de produção exportados pelo Brasil ficaram de fora da sobretaxa, assim como itens que os EUA não produzem.

Mais de 30% das exportações foram isentas

Estudo preliminar do Cindes mostra que, considerando apenas petróleo e outros energéticos, aeronaves, celulose e suco de laranja, mais de 32% da pauta de exportações do Brasil fica de fora da taxa anunciada ontem.

“A pauta brasileira para os EUA é bastante desagregada”, diz Motta Veiga, que lembra que os dez maiores produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos representam apenas 53% da pauta entre as duas nações.

Motta Veiga concorda que o governo brasileiro tem pouca margem de manobra para reverter a tarifação, mas pondera que não se esperava tal magnitude das exceções. “Com toda irracionalidade econômica da tarifa aplicada ao Brasil, recortaram a sanção de uma maneira que em certa medida faz sentido econômico. Vão permitir que produtores americanos comprem insumos sem as tarifas extras. E o Brasil terá dificuldade de responder”, afirma Motta Veiga.

Pauta brasileira para os EUA é bastante desagregada”
— Pedro Motta Veiga

O doutor em direito internacional Thiago Romero, professor do Ibmec, entende que, mesmo com as exceções, o Brasil deve sofrer com o tarifaço dos Estados Unidos. Para ele, “ainda há margem para a diplomacia brasileira trabalhar”.

Romero diz que a aplicação de sanções econômicas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por meio da lei Magnitsky, pode ser uma “cortina de fumaça” que desvia o foco para a retirada desses itens do tarifaço. “Basicamente, a partir do momento em que há publicação [do comunicado] da sanção do Alexandre de Moraes, a Casa Branca publica a [medida com] a infraestrutura das tarifas”, diz Romero, para quem a diplomacia brasileira conseguiu “uma certa vitória” com a lista de exceções, abrindo margem para negociar itens que não foram isentos da sobretaxa, como café e calçados.

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) disse em nota que as tarifas anunciadas pelos Estados Unidos impactam diretamente a pauta exportadora do Estado, salvo produtos presentes em listas de exceção, como óleos brutos de petróleo. A entidade afirmou que 48 municípios que exportam para o mercado norte-americano podem ser impactados pelo tarifaço.

O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) divulgou nota na qual afirma que apenas 25% das exportações minerais brasileiras para os EUA serão impactadas pela tarifa total de 50%. Não foram incluídos nas exceções os minerais caulim, cobre, manganês, vanádio, bauxita e algumas pedras e rochas ornamentais. O instituto afirma que vai atuar para que todos os minerais brasileiros sejam excluídos da nova sobretaxa.

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